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Um dos processos espirituais mais conhecidos na Gnose e até mesmo nos meios católicos é a prática do autoconhecimento. Prática esta que comumente leva a lugar algum.

E um dos motivos de levar a lugar algum é o fato de que aquele que busca o “eu verdadeiro” desprende-se das saudáveis noções existenciais do limite do que ele é e afunda-se em fantasias do que não é. 

O autoconhecimento, enquanto proposta, deveria ser uma prática de crítica interna e observação silenciosa. Deveria ser o reconhecimento de seu lugar no mundo a ponto de não atropelar e não ser atropelado pelas ondas de costumes e sensações deste mesmo mundo. E deveria ser também uma noção de direitos e deveres sociais.

Além do mais, o autoconhecimento deveria ser um exercício espiritual onde o ser situa-se em sua noção de criatura e de que não é deus. E esta é a principal fantasia proposta pela massificação do autoconhecimento, O buscador seria uma espécie de deus auto-gerado e que precisa encontrar este deus em si a todo o custo. Mas nunca encontrará, pelo simples fato de que não é Deus.

A proposta do autoconhecimento excede a si mesma quando a premissa que a inicia é a divinização do ser. Torna-se fonte de loucura, mistura-se a processos outros, alheios a si, torna-se infindável.

Em determinadas esferas gnósticas, o Não-Ser cria o Ser, o Vazio e o Nada geram o Universo e o movimento e tudo o que há nele. 

O que se objetiva com o autoconhecimento? Saber, fugir, negar a realidade? Descobrir realidades paralelas através do uso de drogas, meditação pura e simples ou jogar fora o entulho de buscas, deuses internos e auto-importância?

O caminho parece ser vasto, mas decerto é perigoso. A idéia do autoconhecimento é vendida como um prazer etérico mas é mais que isso, é um risco sempre presente, é uma responsabilidade digna de quem tem coragem de assumir este empreendimento.

Os limites do autoconhecimento deveriam ser evidentes, mas não são. Deveriam ser quando aquele que o empreende se lança na imensidão do espaço de braços abertos e é perfurado pelas afiadas vivências de estranhas percepções. 

Voltamos ao ponto original. O homem não é Deus. Enquanto empreender com esta premissa, o risco não é da paz, mas da loucura.